SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO BARRIL DE ALVA: FONTES: ”AIACO” - A COMARCA DE ARGANIL- GENI.COM - CLARINDA GOUVEIA - P. ANTÓNIO DINIS - - “ECOS DO ALVA” – U.P.B.A.

domingo, 17 de outubro de 2021

O sonho que ousei (1)

 
Sou avesso à exposição de alfaias agrícolas e outros objetos enquanto regra, como se o passado estivesse reduzido ao trabalho rural, de sol a sol. Todas as aldeias, como a minha, têm uma História que não pode ser contada apenas e só pela visão de um arado, de um ferro de engomar, de um prato recuperado com agrafos (chamavam-lhe "gatos"!), de um alcatruz, etc, etc - podia continuar a citar objetos usados pelos nossos antepassados, trazendo à memória um pouco da minha infância, repartida pela aldeia e umas quantas visitas a Almada, onde tinha familiares. O sonho ocupa-me a mente quando recortes da "Comarca de Arganil" - com a bonita idade de mais de um século! - ou imagens como a que escolhi para ilustrar esta croniqueta chegam às minhas mãos. "Lavadeiras" - chamo-lhe assim porque a fotografia retrata a ocupação de algumas mulheres durante determinado período do verão quando os "senhores do Chiado" vinham passar férias ao palacete da família Nunes dos Santos, agora em ruinas ( ou quase…). Acrescento: os fundadores dos Grandes Armazéns do Chiado, de boa memória, eram naturais daqui, do Barril de Alva, uma aldeia maneirinha nos seus 3,3 kms, bem servida de acessos e de outros pequenos "luxos", que se orgulha do "seu" rio Alva e de algumas das pessoas que por cá ergueram obra de relevo, a vários níveis, tendo em vista o bem-estar do povo. Dos sonhos que, publicamente, ousei publicitar destaco um: fazer da sala Multiusos AIACO, no edifício da antiga escola primária, uma sala de memórias, expondo documentos que permitissem (re) descobrir as nossas origens e "conviver" com os antepassados que, com “engenho e arte” ajudaram a crescer a aldeia onde nasci. Ousar o sonho é “fantasiar” o futuro incerto. 
Como perdi a “fantasia” de sonhar, passo adiante…

-(1) Croniqueta adaptada do texto publicada em novembro de 2011, com o título “Sala de Memórias” -http://ritualmente.blogspot.com/2011/11/sonho-uma-sala-de-memorias-o-nome-tem.html

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Tributo à benemência



Estamos em junho de 1965.

A União e Progresso do Barril de Alva, UPBA, deseja erguer um obelisco no largo da escola e precisa da autorização do ministro da Educação para levar por diante as suas intenções, depois do projeto ter sido aprovado pela Câmara Municipal de Arganil.
No dia 13 daquele mês de junho segue a carta protocolar, onde muito respeitosamente “… vêm à presença de V-Exª. solicitar a autorização necessária para que esta coletividade possa homenagear os beneméritos locais, muito especialmente aqueles que construíram o edifício escolar a suas expensas e o entregaram ao Estado mediante escritura de doação em 8 de junho de 1913…”. Junta-se a planta do obelisco e a indicação de que a sua inauguração “se pretende inserir no programa do 30º aniversário da UPBA”.
O ofício da Direção do Distrito de Escolar de Coimbra, datado de 14 de setembro do mesmo ano, informa que “… por despacho de 8 do corrente foi autorizada a implantação do obelisco…”, e acrescenta, “preto no branco”:
- A Delegação para as Obras de Construção de Escolas Primárias emite o parecer "de que a parcela triangular que será subtraída ao logradouro para aquele efeito pode ser ajardinada, com o que beneficiará todo o conjunto”.
Entre outras, sobre a “Estética do Belo”, prefiro a definição (resumida) de São Tomás de Aquino: “a coisa completa”, bonita, perfeita
… como um jardim “arrumadinho”, com ou sem obelisco. Este foi inaugurado no dia  25 de julho de 1965.
*

Requalificação do Largo Alberto Martins de Carvalho (ex-"Largo da Escola") - composição geométrica do monumento que honra o bairrismo e  a benemerência dos barrilenses - maio de 2012

sábado, 25 de setembro de 2021

"O Prédio dos Bonecos" de Joaquim Mendes Correia de Oliveira


Joaquim Mendes Correia de Oliveira, esposa  e filho  - António Inácio Alves Correia de Oliveira, A.I.A.C.O. - junto ao seu palacete, ainda  de pé e habitábel,  conhecido omo "Casa dos Bonecos *"

Joaquim Mendes Correia de Oliveira , barrilense, pouco referenciado, é certo, mas pelo merecimento da sua generosidade justifica encómios e destaque de “primeira página”, como o Governo da República reconheceu em 1913:

Diário do Governo n.º 57/1913, Série I de 1913-03-11 Ministério do Interior - Direção Geral da Instrução Primária.

Portaria de 8 de Março" (…) louvando o professor da escola do lugar do Barril e o cidadão
Joaquim Mendes Correia de Oliveira 
por serviços relevantes prestados à instrução e educação cívica nacionais"

A Junta de Freguesia do Barril de Alva, em 1924, também não deixou de lhe prestar justa homenagem ao atribuir o seu nome a uma das primeiras ruas da aldeia… 
Joaquim Mendes Correia de Oliveira emigrou para Belém do Pará, no Brasil, onde fez fortuna. De regresso a Portugal, construiu de raiz um soberbo palacete na sua terra natal, ainda de pé e habitável. O edifício é conhecido pela “prédio dos bonecos” pelo facto da decoração do beirado ostentar peças de estatuária. 
A talhe de foice, refira-se o pormenor de ter sido em 1911 residência temporária durante uma visita à região do ministro do Fomento da República, Brito Camacho. 
A benemerência do nosso conterrâneo estendeu-se à construção 
- do esplendoroso edifício da escola primária do Barril de Alva, em parceria com José Freire de Carvalho e Albuquerque, Abílio Nunes dos Santos e Joaquim Nunes dos Santos; 
- da antiga sede da Filarmónica Barrilense (agora, depois de recuperada acolhe um projeto cultural de inegável importância na comunidade: a Casa/Museu “OS BARRILENSES SÃO ASSIM”, frase emblemática dita vezes sem conta pelo seu filho A.I.A.C.O); 
- da igreja matriz do Barril de Alva, que tem como orago S. Simão. 
Infelizmente, Joaquim Mendes Correia de Oliveira faleceu relativamente novo. 
A lista de pessoas de bem fazer, não sendo extensa pela leitura das marcas de avultadas obras, é, no entanto, enorme pelo espírito solidário de quem nasceu barrilense ou sente como sua esta mesma “pátria”. 
-
*  Junto ao telhado foram colocadas  estatuetas de média dimensão, elementos decorativos que  representam (?) as estações do ano. O edifício, para todo o sempre, ficou conhecido como "Prédio dos Bonecos".

Rio ALVA, ALBA ou ALBULA

 

O Rio Alva como foi descrito por Pinho Leal*

“Nasce na serra da Estrella, de uma das lagôas que estão no alto da Serra. (Vide Estrella).
Principia o seu curso no sitio da Cabreira. Perde o nome no sitio de Porto de Boi, e d'ahia uns 80 metros, no sitio de Summo, se esconde por baixo da terra, tornando a sahir na ponte de Caniços.
É um tunel natural, onde a luz penetra por oculos, também naturaes.
Abaixo d'esta ponte se lhe junta o ribeiro de Sabugueiro, tendo próximo uma ponte de pedra.
Aqui se espaira e forma o grande Pégo de Pedro Gil, e por baixo tem outra ponte de pedra, próximo a Villa-Cóva da Coelheira. Até aqui as suas águas são inutéis por correrem muito fundas, por entre penhascos; mas d'aqui para baixo principiam a ser aproveitadas em moinhos e regas.
Passa a villa de Sandomil(a 18 kilometros da origem do rio), e vae até á villa da Feira(não á villa da Feira provincia do Douro, mas á da Beira), daqui á vila de Avô, onde têm uma ponte de pedra, e d'aqui passa a famosa ponte de Villa Cova de Sub-Avô, vae a Cója, onde têm outra ponte, e ahi recebe a ribeira de Cója. Passa a aldeia de Serzêdo, onde se junta o ribeiro d'este nome, e vai até aos Furados.
Chamam os Furados a um boqueirão, que abriram, por baixo de uma serra, para regarem campos. Aqui desce a agua por um cachão, de desmedida grandeza, fazendo tamanho estrondo, que se ouve a grande distância. Todo este aqueduto subterrâneo é obra dos arabes, e quasi todo aberto a picão, em rocha viva. A pesca que se faz n'estes Furados é immensa de verão.
Antigamente era todo o peixe dos condes de Pombeiro, que eram os senhores da terra.
D'ahi vae a Valle de espinho, onde têm uma ponte de um só arco, mas de maravilhosa architectura.
Morre na esquerda do Mondego, na Foz do Alva. Cria bastante peixe e até á Foz do Alvachegam lampreias e saveis; mas poucos, e só até onde o rio não têm açudes.
Têm 60 kilometros de curso.
As escarpadas margens d'este rio tem muitas minas de oiro, que os romanos e árabes exploraram, do que há muitos vestigios evidentes junto á ponte de Murcella e Moura Morta (foral de D. Afonso Henriques no ano de 1151).
Suas areias ainda ás vezes trazem palhetas de oiro”.

-*Pinho Leal

Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Leal foi um militar português mais conhecido por historiador, pela sua monumental obra corográfica: «Portugal Antigo e Moderno», em 12 volumes, publicados em Lisboa pela Livraria Editora de Mattos Moreira entre 1873 e 1890. Wikipédia

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Irmãos Nunes dos Santos


As comemorações do 50º aniversário dos Grandes Armazéns do Chiado, inaugurados a 19 de novembro de 1894, foram o pretexto para a União e Progresso do Barril de Alva promover uma imponente sessão solene no Grémio da Comarca de Arganil, em Lisboa, homenageando os irmãos Abílio e Joaquim Nunes dos Santos, naturais do Barril de Alva, proprietários da firma Nunes dos Santos & Cª e fundadores dos conceituados Armazéns.
Respigam-se notas sobre a efeméride em diversas publicações, mas é o jornal “A Comarca de Arganil” que importa salientar pela minúcia da reportagem, reproduzindo passagens do discurso do principal orador, que acentuou o percurso dos dois irmãos:
-“Dizem-me que foram dois rapazes de 15 anos aproximadamente, modestos, nascidos numa região quase ignorada, num povozinho escondido, entre ramos de pinheiros e oliveiras, e que fugiram da aldeia em busca da aventura.
Deixaram o sossego e a tranquilidade da sua terra (…), um seguiu para o norte, o outro para o sul. Entregaram-se nas mãos do destino que mais tarde os uniu (…).Venceram em várias etapas da carreira comercial, indo de marçanos a caixeiros, a viajantes (…), até serem verdadeiros comerciantes.
À custa de uma rara tenacidade (…), persistência e dura economia conseguiram amealhar seiscentos mil reis para conseguirem o seu primeiro triunfo: a fundação da firma Nunes dos Santos & Cª (…)
O que a maior parte dos presentes ignora são os benefícios prestados pelo sr. Abílio Nunes dos Santos à terra da sua naturalidade - Barril de Alva:
- Contribuiu com o seu irmão Joaquim Nunes dos Santos para a construção do edifício escolar, num terreno cedido pelo sr. José Freire de Carvalho e Albuquerque,
- Construiu na quase totalidade a capela de Santo Aleixo e a escadaria anexa, concluiu a construção do chafariz do largo da escola (que teria ligação a um outro, no largo José Freire de Carvalho e Albuquerque),
- Construiu o cemitério da freguesia num terreno também cedido pelo sr. José Freire de Carvalho e Albuquerque,
- Construiu um ramal que da estrada de Lourosa liga os dois povos do Casal do Meio e Casal Cimeiro,
- Comprou os postes para a linha telefónica (desde Coja),
- Comparticipou na luz elétrica e na reedificação da Igreja, e a Filarmónica Barrilense também tem recebido a sua ajuda (…).
Sobre os Grandes Armazéns do Chiado existe substancial informação, fácil de localizar, que pode ser esmiuçada pelos mais curiosos.
(ver aqui: https://restosdecoleccao.blogspot.com/2012/01/grandes-armazens-do-chiado.html).
Para a família barrilense, os irmãos Abílio e Joaquim Nunes dos Santos justificam os maiores encómios - eles e alguns dos seus familiares que, de certo modo, também contribuíram para o bem estar da população da então freguesia do Barril de Alva.
Além da sua terra natal, algumas instituições do concelho de Arganil, nomeadamente o Hospital de Arganil, encontraram vezes sem conta, um ”porto de abrigo” no aconchego financeiro dos irmãos Nunes dos Santos.
Graças à sua benemerência, o progresso do Barril de Alva teve impacto no seu crescimento populacional durante duas, três décadas.
Entretanto, a União e Progresso do Barril de Alva, UPBA, sediada no concelho de Almada, aos poucos foi tomando “conta do recado”, angariando fundos de modo a acrescentar mais valias ao Brarril de Alva. A dinâmica dos sucessivos corpos sociais, associados e amigos da instituição, colocaram-na no topo do movimento regionalista da Comarca de Arganil!
A U.P.B.A. é, pois, por direito próprio, o símbolo maior do “amor pátrio” dos barrilenses à sua terra, e os irmãos Nunes dos Santos, na época,  os principais impulsionadores e obreiros de grandes obras públicas, à exceção da ponte sobre o rio Alva.
-
Uma palavra de gratidão a António Inácio Alves Correia de Oliveira, A.I.A.C.O. - exemplar “construtor de pontes” entre gentes pelo amor à causa barrilense.
Sem a profícua lavra do incansável A.I.A.C.O., o silêncio sobre o passado do Barril de Alva seria “ensurdecedor”!
*

sexta-feira, 23 de julho de 2021

A beleza dos sonhos

 O Barril de Alva cresceu tanto que passou a ser … tão grande como outra terra qualquer…”.



Depois da construção da ponte sobre o rio Alva, a importância da freguesia do Barril de Alva, como referido em apontamento anterior, alterou o contexto autárquico local, como reconhece o site “Miradouro de Vila Cova” ”(https://miradourodevilacova.blogs.sapo.pt/subsidios-para-a-historia-de-vila-cova-1263095):

“(…) Vila Cova tinha, em 1860, 1306 moradores e em 1920, 1364 moradores. A partir de 1924, com a desanexação da povoação de Barril do Alva, a população de Vila Cova diminuiu para metade e não mais recuperou (…)”.

Não são conhecidos números concretos sobre a população residente na nova freguesia no ano da sua independência administrativa (1924), mas em 1930, segundo os censos, o Barril de Alva tinha 474 moradores. Em 1940, 508; em 1950, 510; em 1960, 491. Em 1970, 430, e no ano de 1981 os números voltaram a subir: 468 habitantes.
A partir de então, a população do Barril de Alva caiu para números modestos: em 1991, 383. em 2001, 386 e em 2011, 281…
Os anos de glória da nova freguesia justificam uma “viagem no tempo” para recordar os alicerces de uma aldeia airosa e soalheira, provida de seis ou sete estabelecimentos comerciais (mercearias, padarias, tabernas, talho, venda de tecidos, e acessórios técnicos, etc), telefone e posto dos correios, fontanários públicos, cemitério, quantidade razoável de mestres carpinteiros e pedreiros, ferreiro, sapateiro, barbeiro, moleiros, madeireiros e, em maior número, trabalhadores rurais.
A Filarmónica era - e continua a ser! - a “menina bonita” dos barrilenses; o “rancho das Rosas” e o “Orfeon da Filarmónica”, durante algum tempo, foram uma opção de entretenimento. E havia a Casa do Povo, local dos “bailes mandados” (com a obrigatoriedade de os cavalheiros levarem “as meninas ao bufete”…), sem esquecer as feiras francas e festas religiosas anuais, que eram três – uma delas tinha desfile organizado em dia de merenda no Parque da Ponte, ao som da Filarmónica que brilhava nos acordes da “Marcha do Barril”…
A Escola Primária pública, com duas salas e residência para professores, era o orgulho das gentes da terra. Liam-se jornais, nacionais e regionais, como o Diário de Notícias, A Comarca de Arganil e o Jornal de Arganil. José Valentim era um dos conceituados correspondentes da Imprensa e António Inácio Alves Correia de Oliveira, A.I.A.C.O., o mestre na arte de poetizar a escrita, dinâmico e sonhador de um Barril de Alva maior, sempre maior!
Na ausência de viaturas particulares, os transportes públicos davam conta das necessidades de quem tivesse de se deslocar à sede do concelho, Arganil, ou a Coimbra.
*
Como foi possível tamanho desenvolvimento em tão curto espaço de tempo? 
Com exemplos como este:

- “Comissão Executiva da Câmara Municipal de Arganil, de 11 de março de 1920.
“Tendo-se apresentado nesta sessão o cidadão Albano Nunes dos Santos, do Barril, declarou que fazia entrega à Câmara dum cemitério construído naquele povo por seu irmão Abílio Nunes dos Santos, em terreno de António Freire de Carvalho e Albuquerque (…)”

A benemerência de alguns cidadãos, de forma individual ou associados na União e Progresso do Barril de Alva, construiu um movimento regionalista ímpar na região!
… E o Barril de Alva cresceu, cresceu tanto que passou a ser “… tão grande como outra terra qualquer…”.

“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura (…)”
Alberto Caeiro
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terça-feira, 13 de julho de 2021

Presidente da Câmara de Arganil


Sem balizar no tempo existências físicas, alguns dos senhores ligados à Casa do Barril merecem especial referência, como Manuel Alves Mattoso, nascido em finais do século XVII, ascendente das famílias Freire de Carvalho e Albuquerque, do Barril, dos Viscondes do Sarzedo, Abranches Freire de Figueiredo, Mattoso da Fonseca e os Soares Pinto Mascarenhas, de Folques.(...).
Em Coja existiu uma outra família de apelido Albuquerque. Os “Albuquerques” do Barril vieram diretamente de Tourais (Seia) em meados do séc. XIX e constituem um ramo da Casa do Arco, de Viseu, sobre os quais há imensa literatura.
Antes da aliança com os "Albuquerques”, os senhores da Casa do Barril usavam os apelidos Costa Coelho Freire de Faria de Sequeira Geada,
Em 1903 foi  presidente da Câmara de Arganil  o senhor da “Casa do Barril” José Freire de Carvalho  e Albuquerque .


A Casa do Arco ou Solar dos Albuquerques

sábado, 3 de julho de 2021

1894 -José Monteiro de Carvalho e Albuquerque

= SOCIEDADE FILARMÓNICA BRRILENSE =

Tenho na memória de menino o som estridente de um pequeno instrumento de sopro, capaz de sobressair acima de todos os outros a um sinal do maestro. Era a “Requinta” do meu avô António Pereira. músico da Filarmónica Barrilense.
O avô Pereira, anos depois,  contava estórias da “Banda do seu tempo”, do seu fundador e “senhor da Casa do Barril” (Quinta de Santo António), José Monteiro, e de um familiar com quem viria a conviver mais tarde em Lourenço Marques, Moçambique: António Freire, o último “senhor” da “Casa do Barril”, onde o “Grupo Musical da Quinta de Santo António” deu os primeiros passos, alterando depois a designação para Sociedade Filarmónica Barrilense.
O registo de “nascimento” da instituição remonta ao dia 5 de novembro de 1894.
Décadas depois do tempo das memórias do som estridente da “Requinta”, tive a honra de presidir aos destinos da Filarmónica da terra onde nascemos, eu e o avô Pereira…

A partitura
Certo dia, quando catalogava partituras antigas, deparei-me com o subtítulo de uma ”Partitura para piano”, da autoria de José Monteiro de Carvalho e Albuquerque - o fundador da Filarmónica. Num dos cantos do documento estava escrita uma dedicatória “…para a Rainha D. Amélia”.
Nessa altura, um dos executante dos mais antigos da Filarmónica, Abílio Ribeiro, reforçou as referências do meu avô sobre a personalidade humana de José Monteiro, “…que tinha aprendido música com grandes mestres” e tinha “… um grande coração para os mais pobres…”.
Num dos textos de António Inácio Alves Correia de Oliveira, A.I.A.C.O., sobre o falecimento de José Monteiro de Carvalho e Albuquerque, publicado no dia 18 de outubro de 1929 no jornal “A Comarca de Arganil”, é referido que “… com  a sua morte, a freguesia (do Barril de Alva) e a região perderam uma das figuras de maior relevo e prestígio…”.

Nasceu no lugar do Barril
José Monteiro de Carvalho e Albuquerque nasceu no Barril em 1886 e faleceu na Quinta do Boiço, Oliveira do Conde, no dia 1 de outubro de 1929. Era filho de José Freire de Carvalho e Albuquerque e Maria Emília Freire de Amorim, da casa do Sarzedo e irmão de António Freire de Carvalho e Albuquerque. 
José Monteiro de Carvalho e Albuquerque, era pessoa de bem, culto e dedicado “…à arte musical”, talento sobejamente conhecido dos seus pares e do povo do Barril, pois “… desceu ao convívio da gente humilde pra colaborar no seu desenvolvimento cultural”- AIACO.
-
C.R.
         
                    Primeiro instrumento da Filarmónica                          Primeira sede da Filarmónica

quarta-feira, 9 de junho de 2021

A importância da ponte sobre o rio Alva (1888)



O lugar do Barril, como referido anteriormente, em termos administrativos, dependia de Vila Cova de Sub-Avô, sede de Concelho, extinto em 1836. Os poucos habitantes, na sua quase totalidade, trabalhavam as terras dos senhores da “Casa do Barril”, de certo modo confinados na margem direita do rio Alva.
Havia sítios específicos para atravessar o rio, de barco ou a vau, sobretudo no Urtigal e no local onde viria a ser construída a ponte que havia de alterar radicalmente o futuro do Barril.
As obras tiveram inicio em 1886 e terminaram dois anos depois.A partir de 1888 “…todos os caminhos vinham dar ao Barril”, desde Coja, Lourosa e Vila Cova…
Não é de estranhar, pois, que o lugar se transforme numa aldeia promissora, absorvendo novas famílias a quem a Quinta de Santo António (a “Casa do Barril”) oferecia trabalho e disponibilizava terras de cultivo.
… Entretanto, o Barril ganha novas e importantes valências, e em 1924 a sua independência administrativa.

quarta-feira, 12 de maio de 2021

1720 - A "Casa do Barril"


A pesquisa digital sobre temas relacionados com o título desta modesta e despretensiosa “viagem ao passado”, com paragens em vários “apeadeiros”, era obrigatória e necessária.
Sem asas para “grandes voos”, a descoberta das origens da “Casa do Barril” limitou-se a frustrantes tentativas. No entanto, durante o trajeto, foi possível conhecer inúmeras ligações de “senhores da Casa do Barril” à nobreza e outras casas fidalgas, com destaque para a Casa do Arco (Viseu), Casa do Couchel (Vila Nova de Poiares), Casa de Óvoa (Santa Coma Dão), condes / viscondes de Folques, Sarzedo, Oliveira do Conde, Fornos de Algodres, Tourais (Seia), etc, etc.
A "Casa do Barril" é citada pela primeira vez (?) num pequeno texto algures no ano de 1720, onde se afirma que “...os seus proprietários eram donos de terras até ao rio…”, incluindo “a Quinta do Urtigal”, que fazia parte “…da freguesia de Vila Cova de Sub-Avô…”- (volume XI da obra “Portugal Antigo e Moderno”, editado em 1886).
O brasão dos “Freires e Albuquerques”, senhores da “Casa do Barril”, no entanto, é datado de 1696...

Regressemos aos textos publicados por A.I.A.C.O. no jornal “A Comarca de Arganil”, aos apontamentos do jornal “Ecos do Alva”, e à leitura de alguns capítulos da obra do padre A. Dinis, “Espariz - subsídios para a sua História”. A sustentabilidade dos trabalhos publicados permite alinhavar parte da História do Barril (de Alva), onde se inclui, naturalmente, a “casa dos fidalgos”- alguns dos “senhores” patrocinaram empreendimentos de inquestionável importância na vida comunitária, como se poderá constatar em próximos apontamentos.
Durante o percurso, alinhavei factos e lendas; na dúvida sobre uma ou outra informação confusa, valeu-me (quase sempre) a memória saudável de Maria Clarinda Gouveia - o “pronto-socorro mais à mão”, principalmente sobre estórias dos últimos tempos dos “senhores fidalgos”…
Conclusão: as origens da “Casa do Barril” permanecem no limbo do desconhecido…


Por ser entendida fastidiosa a publicação de dezenas de nomes de titulares da Casa do Barril, a exceção, por ser jovem, é Bento José Freire de Faria de Sequeira Geada, Capitão-mor de Vila Cova de Sub Avô .Nasceu no Barril no dia 13 de janeiro 1753 e faleceu em São Martinho do Bispo no dia 30 de outubro de 1768, com a idade de quinze anos. Está referenciado no jazigo da família Freire de Carvalho e Albuquerque, erguido no cemitério de Oliveira do Conde.
O adolescente capitão-mor era filho de José Freire de Sequeira Coelho Neves de Faria Geada Costa de Abreu, senhor da Casa do Barril, natural de Folques. Faleceu em 1855, deixando viúva Isidora Bernarda Joaquina das Neves e Abreu, nascida no dia 6 de junho de 1738 em São Martinho do Bispo.
Quem tem direito a memória eterna na História do Barril (de Alva) é José Monteiro Freire de Carvalho e Albuquerque, também senhor da Casa do Barril, nascido no dia 09 Janeiro de 1867, a quem se deve a fundação da “Sociedade Filarmónica Barrilense”, inicialmente designada por “Grupo Musical da Quinta de Santo António”.
A seu tempo, a efeméride terá tratamento diferenciado.
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O último senhor da Casa do Barril foi António Freire de Abreu e Albuquerque. Nasceu em 1892 e faleceu no dia 08-01-1968 em Lourenço Marques, Moçambique.
Foi Casado com D. Branca Ferreira Pinto Basto de Paiva (Lisboa 1889-Monte Estoril, da Casa do Couchel, Vila Nova de Poiares.
“A casa do Barril”, em data incerta, passou a ser denominada por Quinta de Santo António, possivelmente em honra do santo de Lisboa e patrono (?) da capela existente na quinta.
Durante algum tempo o empreendimento foi designado por Casa Agrícola.
Em bolandas durante vários anos, o património da antiga “Casa do Barril” foi adquirido (em 1989 ?) pelo casal holandês Piet Amold / Sjonkje Marion.
*
Com a devida vénia, imagens do JAZIGO  DA FAMÍLIA FREIRE aqui: http://solaresebrasoes.blogspot.com/2014/10/jazigo-da-familia-freire-carvalho-e.html

sexta-feira, 7 de maio de 2021

O moleiro do Barril

 Existem duas versões conhecidas sobre o nome do lugar do Barril – “…pequeno povoado da margem direita do rio Alva” (ALBA ou ALBULA, como foi conhecido no passado remoto, segundo Pinho Leal, historiador, autor da obra “Portugal Antigo e Moderno, publicada entre 1873 e 1890):


1 - Sobre o topónimo BARRIL, escreveu AIACO (…): medieval, derivado de barro e, portanto, de sentido geológico (…). Temos que admitir, também, que o povoamento do Barril de Alva é anterior ao século XII”.

Diz a lenda:
2 - (…) existia um lugar na margem direita do rio Alva, entre Vila Cova de Sub-Avô e Coja, sem denominação conhecida.
Certo dia, o Alva teve grande cheia. Um moleiro do pequeno povoado, ao reparar que havia barris de vários tamanhos na corrente, pegou numa vara e, com ela, conseguiu arrastá-los para a margem.
Nesse ano, a produção de vinho foi de tal modo elevada que se esgotou o vasilhame. Os agricultores das redondezas recorreram ao moleiro, com quem fizeram negócio. Por essa razão, passou a ser conhecido pelo “Moleiro do Barril
… e assim nasceu o lugar do Barril !

 

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Barril em 1727

Segundo António Inácio Alves Correia de Oliveira (AIACO), conhecedor profundo da História do BARRIL DE ALVA, os fundadores dos Grandes Armazéns do Chiado, naturais do BARRIL, afiançavam que a QUINTA DO URTIGAL já existia em 1727.
O padre Luís Cardoso deixou escrito no Cartório Paroquial de Vila Cova de Sub-Avô que o BARRIL, nesse ano, tinha “… vinte e nove vizinhos“.


Urtigal: a moenda fazia parte da quinta, bem como a  residência do caseiro, entretanto demolida

Barril: três ermidas em 1721

...Sobre o crescimento do lugar do Barril são raras as referências. No entanto, os elementos cronológicos referidos pelo antigo padre Januário, prior de Vila Cova, Anseriz e Barril, e mencionados por AIACO, apontam a implantação da Quinta de Santo António (conhecida como “casa do Barril”) como principal fator no desenvolvimento do lugar.
Dos registos conhecidos sobre os “Senhores da Casa do Barril”, o mais antigo é José Freire de Sequeira Coelho Neves de Faria Geada Costa de Abreu, senhor da Casa do Barril, nasceu em Folques. Faleceu em 1855.
O brasão dos “Freires e Albuquerques”, senhores da “Casa do Barril”, é datado de1696…

Informação documentada a ter em conta:

"No dia 12 de junho de 1721, o prior de Vila Cova de Sub Avô, António Ferreira dos Santos, a pedido do Cabido da Sé de Coimbra, informava sobre a existência das ermidas do Barril, que eram três: S. Simão, no Casal de Baixo, Santo Aleixo, no Casal do Meio, e Santa Maria Madalena, no Casal Cimeiro (...)”.

O tema “Quinta de Santo António” justifica apontamentos de pormenor mais adiante.

***

     Brasáo dos "Freires e Albuquerques"            
                                                                                                   As 3 ermidas do Barril 
                                                                                                    documento original de 1721 e eópia 
                                                                                                  (colaboração de Paulo Santos)


quarta-feira, 28 de abril de 2021

O “Barril” em 1532

 NOTA PRÉVIA

No dia 12 de julho de 1527, a mando do rei D. João III, foi organizado o Cadastro da População do Reino*. Quando terminaram os censos, em 1532, os resultados davam conta de que no concelho de Coja residiam 531 pessoas.
No livro “Espariz - subsídios para a sua História”, escrito em 1991 pelo falecido padre Dinis, o autor divulga a população do extinto concelho de Coja:
-“Na vila de Coja, moradores eram 83; no lugar do Baril, 10; na Esculca, 17; no Pisão…” etc, etc.
O apontamento sobre os censos de 1532 foi o ponto de partida para outras buscas sobre o passado do Barril de Alva, recorrendo, numa primeira fase, à consulta de documentos recolhidos por António Inácio Alves Correia de Oliveira (AIACO) - com créditos valiosos nesta matéria -, bem como o padre Januário Lourenço dos Santos.
Muito antes de 1532 passaram por aqui exploradores romanos…
O “Baril”, ou Barril, como era conhecido, passou a designar-se Barril de Alva em 25 de Julho de 1924, percorreu o seu percurso como as demais aldeias, cresceu e ganhou um lugar, embora modesto, na História do país que somos.
Foi berço de personalidades ilustres, uns sobejamente conhecidos da comunidade, outros nem tanto…
Os filhos diletos desta terra, pelo merecimento dos seus atos e competências, ausentes ou não do torrão natal, justificam uma “palavra” em letra de forma na história do Barril de Alva e do concelho a que pertence!
- Ordenar e datar efemérides, recordar intérpretes de ideais que deram força e visibilidade generalizada à frase “Os Barrilenses são assim” (AIACO) é a missão a que me proponho.
Carlos Ramos

*Cadastro da População do Reino (1527) - por João Maria Tello de Magalhães Collaço, Lisboa 1939

“Ala dos Namorados” - É O VOSSO TEMPO!

 Este sítio pretende ter memória de um passado de transformações na comunidade e, pela leitura do conhecimento, recordar quem muito deu de si para o engrandecimento e progresso do Barril de Alva.

Fazer parte da história do Barril de Alva é (quase) um dever cívico da atual “Ala dos Namorados”* barrilenses (...com as óbvias diferenças dos combatentes da  batalha de Aljubarrota, mas com o mesmo espirito de vitória)!

Se a mais a vontade da consciência não “obrigar”, que nunca se afaste do sentimento do amor por esta terra a que estão umbilicalmente “presos”.

*http://www.agr-tc.pt/bibliotecadigital/aetc/index.php?page=13&id=172&db=

Ouro no rio Alva

 

Anos sessenta:  busca do  metal precioso num dos rios da região de Arganil



Os romanos foram exímios exploradores do ouro no rio Alva e nos montes próximos, a céu aberto ou através de minas.
Há testemunhos do garimpo nos rios da região no século passado e nos tempos que correm algumas pessoas ainda tentam a sua sorte…
No Barril de Alva, na margem direita do rio, na Área de Serviço e Pernoita para Autocaravanas, ainda existem milhares de pedras redondas (calhaus) que formam uma CONHEIRA - (…) local onde foram amontoados seixos rolados resultantes do trabalho de exploração mineira do ouro pelos Romanos(…) - “e que muito úteis foram na construção da estrada do Barril para Coja “(António Inácio Alves Correia de Oliveira (AIACO) - “ A Comarca de Arganil”
Pela leitura de inúmeros estudos é possível localizar zonas onde surgem (…) testemunhos das lavarias de ouro em que as terras eram lavadas e as pedras redondas (calhaus) arrumados como escombros (…).
O semanário “Campeão das Províncias”, na edição do dia 26 Agosto de 2016, com o título “Ouro - Maior área mineira de ouro do Portugal romano encontra-se ao longo do Rio Alva, no concelho de Arganil", divulgou (…) a investigação sobre mineração antiga, efetuada por investigadores do CEAACP da Universidade de Coimbra e do Consejo Superior de Investigaciones Cientificas – Madrid (…), e salientou: (…) Os restos que revelam os trabalhos mineiros de época romana concentram-se no concelho de Arganil, ao longo do Alva, sendo esta área mineira particularmente extensa junto a Coja. Entre os vestígios arqueológicos descobertos também se encontram os de um possível acampamento militar romano (Lomba do Canho).
Jorge de Alarcão refere a exploração mineira do Alva, colocando algumas questões relativamente à época da sua exploração, “Nas margens do rio Alva, entre Vila Cova e a confluência do Alva e do Mondego (…) – Direção Geral do Património Cultural.
Trabalho de excelência foi elaborado pela doutora Carla Maria Braz Martins, da Universidade do Minho, Braga, em 2008, sobre A EXPLORAÇÃO MINEIRA ROMANA E A METALURGIA DO OURO EM PORTUGAL (…) principalmente nas margens do rio Alva (vale de Arganil) - página 45.