SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO BARRIL DE ALVA: FONTES: ”AIACO” - A COMARCA DE ARGANIL- GENI.COM - CLARINDA GOUVEIA - P. ANTÓNIO DINIS - - “ECOS DO ALVA” – U.P.B.A.

segunda-feira, 21 de março de 2022

O estandarte, a CIEBA, a Comissão pró Turismo, o carteiro, etc

- Entrevista de António Inácio Alves Correia de Oliveira (AIACO) ao jornal “A Comarca  de Arganil”, publicada no dia 29 de setembro de 1933


Primeiro (?) estandarte da Sociedade Filarmónica Barrilense,
oferecido em junho de 1913 pela colónia do Barril residente em Lisboa e Margem Sull do Tejo

AIACO:
- A Comissão de Iniciativa e Embelezamento do Barril de Alva, CIEBA, foi fundada em 25 de novembro de 1931, mas antes, em setembro, eu, de comum acordo com Abílio Custódio do Vale e António Pais de Mascarenhas, resolvemos angariar fundos para a aquisição de 12 bancos destinados ao Largo José Freire de Carvalho e Albuquerque.
Abrimos para esse efeito uma subscrição que foi coberta com o maior entusiasmo. Em poucas horas angariámos o dinheiro preciso para a compra dos bancos e ainda ficámos com um saldo de 240$00. Uma vez adquiridos os bancos e colocados nos seus lugares, o que se deu em novembro e serviu de pretexto para uma festa local, resolvemos transferir o saldo para uma Comissão de Melhoramentos. Demos os necessários passos na mencionada data com 7 sócios.
- Quem são os atuais dirigentes?
- Albano Nunes dos Santos, José Valentim dos Santos Leal, Constantino da Costa Simões, António Nunes Fernandes, José Apolinário de Brito e eu, como delegado em Lisboa. 
Tinha nascido a C.I.E.B.A.
- O que tem feito a Comissão em benefício do Barril de Alva?
- Inaugurou a 1 de fevereiro de 1932, e ainda hoje mantém, a distribuição postal ao domicílio, em julho do mesmo ano mandou construir uma escada em cantaria para o coreto que está no Largo José Freire, e ainda se procedeu à recuperação do mesmo, no que se gastou 725$00; contribuiu com 1.500$00 para a subscrição aberta para a luz elétrica, instalou na sua sede uma biblioteca com cerca de 200 volumes, etc.
(…)
- Há mais necessidades para referir?
- É necessário construir duas estradas, uma partindo do “chalet” Nunes dos Santos até ao Casal Cimeiro e outra da Estrada Nova para o Casal do Meio…” (…).
Sobre o Barril de Alva, diz AIACO:
- Barril, terra linda por seus dotes naturais, necessita alindar-se ainda mais pela mão do homem. Bem simples: caiando todas as casas, para que os visitantes tenham a melhor das impressões (…).
- Como complemento turístico, interessante seria a construção de uma estrada desde a ponte sobre o rio Alva até à nascente da fonte do Urtigal (…).
Nascia a Comissão Pró Turismo do Barril de Alva, com algum impacto na aldeia, como mais tarde se saberá.
AIACO e a Filarmónica, menina bonita dos barrilenses:
- José Monteiro de Carvalho e Albuquerque era um apaixonado por música - foi ele que fundou a Filarmónica nas instalações da sua casa em 1894, e foi ele que ensinou os primeiros executantes e dirigiu a banda durante vários anos . (…) Nos últimos anos a Filarmónica tem tido notável incremento devido ao seu devotado regente, sr. João Martins Vinagre.
- Como é encarada e apoiada pelos barrilenses a Filarmónica?
- O melhor possível, como é de inteira justiça. A colónia (dos barrilenses) de Lisboa e margem sul do Tejo também não a esquecem, e tanto assim é que em 1913 lhe ofereceram um estandarte que custou 84$300 e no ano findo (1932) outro que importou em cerca de 2.000 escudos (…)”
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É longa a entrevista que AIACO concedeu a Luís Ferreira, publicada no jornal “A Comarca de Arganil” no dia 29 de setembro de 1933.
AIACO deixou correr o pensamento e anunciou projetos associados à CIEBA: em tempo útil, todos eles viram a luz do dia “pelas mãos” da UPBA, União e Progresso do Barril de Alva, fundada em 1935.
A CIEBA foi, naturalmente, a semente da União e Progresso, instituição que, para além de a “construir, foi o lêvedo da própria construção”.

segunda-feira, 7 de março de 2022

José Valentim, "bonecos" de João Abrantes e outras memórias

José Valentim

Nos anos cinquenta, no "centro comercial" do Chiado do Barril de Alva, havia de tudo um pouco: além da venda de mercearias, tecidos, materiais de construção e outros produtos, a taberna situada nas traseiras do edifício servia petiscos e bebidas várias, com predominância de vinho a copo.
No estabelecimento funcionava o posto dos correios e a central telefónica.
No outro lado da rua, o Talho Quaresma tinha as suas portas abertas, e mais acima havia outro espaço comercial com negócio multifactado, ao estilo do Chiado, propriedade da família Valentim. O patriarca da família era pessoa de muitos saberes e ocupações - além do exercício da sua profissão, era membro ativo dos corpos sociais da Filarmónica e correspondente de jornais. Junto ao seu estabelecimento, nos dias de folga, jogava-se à “malha”.
A elegante caligrafia de José Valentim pode ser apreciada nas atas das reuniões da Filarmónica Barrilense daquele tempo...
A comunidade do Barril de Alva e arredores tinha à disposição outros estabelecimentos comerciais, a saber: a taberna do “ti Zé” Candosa, a mercearia do Coelho, os serviços do barbeiro António do Vale (o regedor da terra), do tamanqueiro "ti" Albano e de um ferreiro.
… Além da indústria de madeiras, no Barril de Alva houve uma fábrica de bolos secos, propriedade de Joaquim Trindade, e duas padarias.
O nome de João Abrantes é pouco referenciado pelos escrevinhadores que me antecederam no amor à terra onde nascemos, divulgando as suas belezas e mais valias sociais. 
João Abrantes foi figura única na vida da comunidade por se dedicar ao fabrico de bonecos de papelão, utilizando moldes próprios. Diz a minha vizinha Maria “padeira”, antiga empregada do artista, que este mostrava enorme talento no uso das tintas com que realçava as feições dos seus bonecos.
Periodicamente, João Abrantes enviava algum do produto da sua oficina para um estabelecimento de Coimbra, mas as maiores vendas tinham como destino os Grandes Armazéns do Chiado, em Lisboa.
Outros tempos...


sábado, 5 de março de 2022

Espírito associativo na génese da União e Progresso do Barril de Alva


No dia 17 de março de 1936, Joaquim Madeira, conceituado industrial de panificação de Almada, na sua condição de presidente da direção da União e Progresso do Barril de Alva, concedeu à Comarca de Arganil uma entrevista esclarecedora sobre os primeiros passos da prestigiada instituição, que naquela data, completava um ano de existência.

ESPÍRITO ASSOCIATIVO
- O que determinou essa fundação?- pergunta o jornalista, Luís Ferreira.
- Existia, como é do conhecimento geral, uma comissão de auxílio à Sociedade Filarmónica Barrilense. Os seus fins, de harmonia com o título indicado, eram restritos, limitando-se a auxiliar o simpático agrupamento musical. Em face disto e visto estar criado o espírito associativo entre a colónia barrilense de Lisboa e margem sul do Tejo, alvitrei que se criasse uma coletividade regionalista zeladora dos interesses vitais da freguesia do Barril de Alva…
- E foi bem acolhida a sua sugestão?
- O melhor possível! E tanto assim que em 17 de março do ano findo, e após alguns trabalhos preliminares, houve uma reunião magna da colónia na sede do Grémio da Comarca de Arganil, da qual saiu uma comissão encarregada de elaborar os estatutos para o organismo que se acabara de fundar.
- Foram esses os primeiros passos da União…
- Exatamente. Em 14 de abril seguinte, nova reunião teve lugar, elegendo-se, então por dois anos, os primeiros corpos gerentes e sancionando-se o trabalho da comissão encarregada de redigir os estatutos. E foi assim, legal e serenamente, que a União e Progresso do Barril de Alva se fundou.
Joaquim Madeira acrescenta que, no fim do primeiro ano do mandato, a U.P.B.A. tinha cerca de 70 associados.

RECONHECIMENTO PÚBLICO
Sobre o Barril de Alva, realça que a freguesia está bem servida de algumas benfeitorias: eletricidade, fontanários (exceto no Casal Cimeiro), escola, comércio e pequenas indústrias, etc, havendo carências na rede viária, com  o Casal Cimeiro prioritário e aligação a Pinheirinho - “…um desejo das gentes dos dois territórios, mas só possível com a ajuda do Estado”.
O presidente da União e Progresso, lembrou alguns dos beneméritos da freguesia, a quem o reconhecimento público passaria por dar os seus nomes a algumas das ruas do Barril de Alva, com a colaboração da Câmara Municipal de Arganil, como posteriormente aconteceu.

OFERTA DO INSTRUMENTAL  À FILARMÓNICA
A finalizar, Joaquim Madeira refere;
- Os dois primeiros filhos do velho fidalgo do Barril, sr, José Freire de Carvalho Albuquerque, foram de uma benemerência inexcedível. Ao terceiro deve-se a nova capela de Santo Aleixo e a calçada que liga o Casal de Baixo ao Casal do Meio…
- A Sociedade Filarmónica Barrilense pode contar com o apoio da União?- questiona o jornalista.
- Sem dúvida! Em tudo quanto possamos, pode contar connosco. E bem o merecem os seus 41 anos de existência. A propósito, devo dizer-lhe que o instrumental de que dispõe foi oferta de dois beneméritos a quem contamos prestar homenagem no próximo mês de julho: António Freire de Carvalho Albuquerque e José Monteiro de Carvalho Albuquerque.




quinta-feira, 3 de março de 2022

Março de 1979 - Inauguração da sede da Filarmónica Barrilense

  “…que os acordes metálicos não feneçam com os maus ventos”

O jornal “ A Comarca de Figueiró”, de Figueiró dos Vinhos, publicou no dia 10 de abril de 1979 uma excelente reportagem sobre a inauguração do edifício sede da então Sociedade Filarmónica Barrilense, que decorreu no dia 18 de março  daquele ano

O trabalho jornalístico, extenso e pormenorizado, pode ser visto como um justo louvor ao Barril de Alva e às suas gentes daqueles tempos, pois “é preciso, efetivamente, possuir uma têmpera muito, muito especial, ter um campo de manobra muito prestigiado, guardar muitas amizades vincadas e sobretudo ter muita confiança no inegável bairrismo dos seus conterrâneos, para se terem cometido a tão ingente tarefa” – acentua o autor da reportagem, que assina, simplesmente, Marçal.

Da grande festa do sarau inaugural, na noite do dia 17 do mesmo mês, recordo a presença do “(…) excelente conjunto Esquema 6, de Lisboa (que tinha como líder o barrilense Armando Bernardo), a consagrada Cândida Branca Flor, Jorge Quaresma, Sissi e Zé Portugal (…).

Marçal tinha razão: só foi possível a vinda deste punhado de artistas, sem custos, quando se tem “(…) um campo de manobra muito prestigiado, guardar muitas amizades vincadas (…).
Não tarda, passa mais um aniversário sobre a data da inauguração do emblemático e grandioso edifício.
C.R.


Respigos do texto
- Lembrando o comendador Luís Bento Suzano

“ (…) Alvoreceu o domingo, dia 18 de março de 1979, com a Filarmónica Barrilense percorrendo as ruas (do Barril de Alva) e cerca das 10 horas chegou a Filarmónica Figueiroense, gentilmente convidada, numa confirmação das excelentes relações que identificam as duas Filarmónicas (…)”.

“ (…) a povoação vestiu as melhores galas para a inauguração da nova sede da Filarmónica Barrilense, reafirmando o acrisolado bairrismo e o sentimento das suas gentes, espírito que escorreu em caudal e inundou a alma e o coração desse maravilhoso casal de beneméritos constituído pelo comendador Luís Bento Suzano e sua extremosa esposa D. Maria Josefa Suzano, porquanto, ao bondoso casal se ficou devendo a motivação que alvoroçou e aqueceu os sentimentos dos barrilenses (…)”.

“ (…) Foi então que uma sensacional revelação chega ao conhecimento de todos: (António Inácio Alves) Correia de Oliveira aproxima-se do microfone e anuncia que o comendador Luís Bento Suzano oferecia 100 contos à Sociedade Filarmónica Barrilense (…)”!

Barrilense por herança, a palavra de Adalberto Gens da Costa Simões:
Quem dera que os saudosos fundadores da Sociedade Filarmónica Barrilense (…) pudessem ver das alturas este autêntico “milagre”, força monetária de dois entes diletos, acolitados pelo querer e hercúlea vontade de um bom punhado de bons amigos e quase todos barrildalvenses, entre os quais a dinâmica Comissão de Almada (União e Progresso do Barril de Alva, na altura com um ano de existência), que em peditórios, leilões, piqueniques e “a tostão a tostão” ergueram um edifício impar no concelho de Arganil em glória da sua “menina bonita” para que os seus acordes metálicos não feneçam com os maus ventos e ecoem por esses montes além”.

(António Inácio Alves) Correia de Oliveira falou seguidamente da obra inaugurada, dos sacrifícios exigidos a todos os barrilenses, (…) e com o entusiasmo galvanizante que o carateriza, Correia de Oliveira concluiu:
- As nossas gratidões mantêm-se sempre vivas porque OS BARRILENSES SÃO ASSIM”!
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