SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO BARRIL DE ALVA: FONTES: ”AIACO” - A COMARCA DE ARGANIL- GENI.COM - CLARINDA GOUVEIA - P. ANTÓNIO DINIS - - “ECOS DO ALVA” – U.P.B.A.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Tributo à benemência



Estamos em junho de 1965.

A União e Progresso do Barril de Alva, UPBA, deseja erguer um obelisco no largo da escola e precisa da autorização do ministro da Educação para levar por diante as suas intenções, depois do projeto ter sido aprovado pela Câmara Municipal de Arganil.
No dia 13 daquele mês de junho segue a carta protocolar, onde muito respeitosamente “… vêm à presença de V-Exª. solicitar a autorização necessária para que esta coletividade possa homenagear os beneméritos locais, muito especialmente aqueles que construíram o edifício escolar a suas expensas e o entregaram ao Estado mediante escritura de doação em 8 de junho de 1913…”. Junta-se a planta do obelisco e a indicação de que a sua inauguração “se pretende inserir no programa do 30º aniversário da UPBA”.
O ofício da Direção do Distrito de Escolar de Coimbra, datado de 14 de setembro do mesmo ano, informa que “… por despacho de 8 do corrente foi autorizada a implantação do obelisco…”, e acrescenta, “preto no branco”:
- A Delegação para as Obras de Construção de Escolas Primárias emite o parecer "de que a parcela triangular que será subtraída ao logradouro para aquele efeito pode ser ajardinada, com o que beneficiará todo o conjunto”.
Entre outras, sobre a “Estética do Belo”, prefiro a definição (resumida) de São Tomás de Aquino: “a coisa completa”, bonita, perfeita
… como um jardim “arrumadinho”, com ou sem obelisco. Este foi inaugurado no dia  25 de julho de 1965.
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Requalificação do Largo Alberto Martins de Carvalho (ex-"Largo da Escola") - composição geométrica do monumento que honra o bairrismo e  a benemerência dos barrilenses - maio de 2012

sábado, 25 de setembro de 2021

"O Prédio dos Bonecos" de Joaquim Mendes Correia de Oliveira


Joaquim Mendes Correia de Oliveira, esposa  e filho  - António Inácio Alves Correia de Oliveira, A.I.A.C.O. - junto ao seu palacete, ainda  de pé e habitábel,  conhecido omo "Casa dos Bonecos *"

Joaquim Mendes Correia de Oliveira , barrilense, pouco referenciado, é certo, mas pelo merecimento da sua generosidade justifica encómios e destaque de “primeira página”, como o Governo da República reconheceu em 1913:

Diário do Governo n.º 57/1913, Série I de 1913-03-11 Ministério do Interior - Direção Geral da Instrução Primária.

Portaria de 8 de Março" (…) louvando o professor da escola do lugar do Barril e o cidadão
Joaquim Mendes Correia de Oliveira 
por serviços relevantes prestados à instrução e educação cívica nacionais"

A Junta de Freguesia do Barril de Alva, em 1924, também não deixou de lhe prestar justa homenagem ao atribuir o seu nome a uma das primeiras ruas da aldeia… 
Joaquim Mendes Correia de Oliveira emigrou para Belém do Pará, no Brasil, onde fez fortuna. De regresso a Portugal, construiu de raiz um soberbo palacete na sua terra natal, ainda de pé e habitável. O edifício é conhecido pela “prédio dos bonecos” pelo facto da decoração do beirado ostentar peças de estatuária. 
A talhe de foice, refira-se o pormenor de ter sido em 1911 residência temporária durante uma visita à região do ministro do Fomento da República, Brito Camacho. 
A benemerência do nosso conterrâneo estendeu-se à construção 
- do esplendoroso edifício da escola primária do Barril de Alva, em parceria com José Freire de Carvalho e Albuquerque, Abílio Nunes dos Santos e Joaquim Nunes dos Santos; 
- da antiga sede da Filarmónica Barrilense (agora, depois de recuperada acolhe um projeto cultural de inegável importância na comunidade: a Casa/Museu “OS BARRILENSES SÃO ASSIM”, frase emblemática dita vezes sem conta pelo seu filho A.I.A.C.O); 
- da igreja matriz do Barril de Alva, que tem como orago S. Simão. 
Infelizmente, Joaquim Mendes Correia de Oliveira faleceu relativamente novo. 
A lista de pessoas de bem fazer, não sendo extensa pela leitura das marcas de avultadas obras, é, no entanto, enorme pelo espírito solidário de quem nasceu barrilense ou sente como sua esta mesma “pátria”. 
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*  Junto ao telhado foram colocadas  estatuetas de média dimensão, elementos decorativos que  representam (?) as estações do ano. O edifício, para todo o sempre, ficou conhecido como "Prédio dos Bonecos".

Rio ALVA, ALBA ou ALBULA

 

O Rio Alva como foi descrito por Pinho Leal*

“Nasce na serra da Estrella, de uma das lagôas que estão no alto da Serra. (Vide Estrella).
Principia o seu curso no sitio da Cabreira. Perde o nome no sitio de Porto de Boi, e d'ahia uns 80 metros, no sitio de Summo, se esconde por baixo da terra, tornando a sahir na ponte de Caniços.
É um tunel natural, onde a luz penetra por oculos, também naturaes.
Abaixo d'esta ponte se lhe junta o ribeiro de Sabugueiro, tendo próximo uma ponte de pedra.
Aqui se espaira e forma o grande Pégo de Pedro Gil, e por baixo tem outra ponte de pedra, próximo a Villa-Cóva da Coelheira. Até aqui as suas águas são inutéis por correrem muito fundas, por entre penhascos; mas d'aqui para baixo principiam a ser aproveitadas em moinhos e regas.
Passa a villa de Sandomil(a 18 kilometros da origem do rio), e vae até á villa da Feira(não á villa da Feira provincia do Douro, mas á da Beira), daqui á vila de Avô, onde têm uma ponte de pedra, e d'aqui passa a famosa ponte de Villa Cova de Sub-Avô, vae a Cója, onde têm outra ponte, e ahi recebe a ribeira de Cója. Passa a aldeia de Serzêdo, onde se junta o ribeiro d'este nome, e vai até aos Furados.
Chamam os Furados a um boqueirão, que abriram, por baixo de uma serra, para regarem campos. Aqui desce a agua por um cachão, de desmedida grandeza, fazendo tamanho estrondo, que se ouve a grande distância. Todo este aqueduto subterrâneo é obra dos arabes, e quasi todo aberto a picão, em rocha viva. A pesca que se faz n'estes Furados é immensa de verão.
Antigamente era todo o peixe dos condes de Pombeiro, que eram os senhores da terra.
D'ahi vae a Valle de espinho, onde têm uma ponte de um só arco, mas de maravilhosa architectura.
Morre na esquerda do Mondego, na Foz do Alva. Cria bastante peixe e até á Foz do Alvachegam lampreias e saveis; mas poucos, e só até onde o rio não têm açudes.
Têm 60 kilometros de curso.
As escarpadas margens d'este rio tem muitas minas de oiro, que os romanos e árabes exploraram, do que há muitos vestigios evidentes junto á ponte de Murcella e Moura Morta (foral de D. Afonso Henriques no ano de 1151).
Suas areias ainda ás vezes trazem palhetas de oiro”.

-*Pinho Leal

Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Leal foi um militar português mais conhecido por historiador, pela sua monumental obra corográfica: «Portugal Antigo e Moderno», em 12 volumes, publicados em Lisboa pela Livraria Editora de Mattos Moreira entre 1873 e 1890. Wikipédia

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Irmãos Nunes dos Santos


As comemorações do 50º aniversário dos Grandes Armazéns do Chiado, inaugurados a 19 de novembro de 1894, foram o pretexto para a União e Progresso do Barril de Alva promover uma imponente sessão solene no Grémio da Comarca de Arganil, em Lisboa, homenageando os irmãos Abílio e Joaquim Nunes dos Santos, naturais do Barril de Alva, proprietários da firma Nunes dos Santos & Cª e fundadores dos conceituados Armazéns.
Respigam-se notas sobre a efeméride em diversas publicações, mas é o jornal “A Comarca de Arganil” que importa salientar pela minúcia da reportagem, reproduzindo passagens do discurso do principal orador, que acentuou o percurso dos dois irmãos:
-“Dizem-me que foram dois rapazes de 15 anos aproximadamente, modestos, nascidos numa região quase ignorada, num povozinho escondido, entre ramos de pinheiros e oliveiras, e que fugiram da aldeia em busca da aventura.
Deixaram o sossego e a tranquilidade da sua terra (…), um seguiu para o norte, o outro para o sul. Entregaram-se nas mãos do destino que mais tarde os uniu (…).Venceram em várias etapas da carreira comercial, indo de marçanos a caixeiros, a viajantes (…), até serem verdadeiros comerciantes.
À custa de uma rara tenacidade (…), persistência e dura economia conseguiram amealhar seiscentos mil reis para conseguirem o seu primeiro triunfo: a fundação da firma Nunes dos Santos & Cª (…)
O que a maior parte dos presentes ignora são os benefícios prestados pelo sr. Abílio Nunes dos Santos à terra da sua naturalidade - Barril de Alva:
- Contribuiu com o seu irmão Joaquim Nunes dos Santos para a construção do edifício escolar, num terreno cedido pelo sr. José Freire de Carvalho e Albuquerque,
- Construiu na quase totalidade a capela de Santo Aleixo e a escadaria anexa, concluiu a construção do chafariz do largo da escola (que teria ligação a um outro, no largo José Freire de Carvalho e Albuquerque),
- Construiu o cemitério da freguesia num terreno também cedido pelo sr. José Freire de Carvalho e Albuquerque,
- Construiu um ramal que da estrada de Lourosa liga os dois povos do Casal do Meio e Casal Cimeiro,
- Comprou os postes para a linha telefónica (desde Coja),
- Comparticipou na luz elétrica e na reedificação da Igreja, e a Filarmónica Barrilense também tem recebido a sua ajuda (…).
Sobre os Grandes Armazéns do Chiado existe substancial informação, fácil de localizar, que pode ser esmiuçada pelos mais curiosos.
(ver aqui: https://restosdecoleccao.blogspot.com/2012/01/grandes-armazens-do-chiado.html).
Para a família barrilense, os irmãos Abílio e Joaquim Nunes dos Santos justificam os maiores encómios - eles e alguns dos seus familiares que, de certo modo, também contribuíram para o bem estar da população da então freguesia do Barril de Alva.
Além da sua terra natal, algumas instituições do concelho de Arganil, nomeadamente o Hospital de Arganil, encontraram vezes sem conta, um ”porto de abrigo” no aconchego financeiro dos irmãos Nunes dos Santos.
Graças à sua benemerência, o progresso do Barril de Alva teve impacto no seu crescimento populacional durante duas, três décadas.
Entretanto, a União e Progresso do Barril de Alva, UPBA, sediada no concelho de Almada, aos poucos foi tomando “conta do recado”, angariando fundos de modo a acrescentar mais valias ao Brarril de Alva. A dinâmica dos sucessivos corpos sociais, associados e amigos da instituição, colocaram-na no topo do movimento regionalista da Comarca de Arganil!
A U.P.B.A. é, pois, por direito próprio, o símbolo maior do “amor pátrio” dos barrilenses à sua terra, e os irmãos Nunes dos Santos, na época,  os principais impulsionadores e obreiros de grandes obras públicas, à exceção da ponte sobre o rio Alva.
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Uma palavra de gratidão a António Inácio Alves Correia de Oliveira, A.I.A.C.O. - exemplar “construtor de pontes” entre gentes pelo amor à causa barrilense.
Sem a profícua lavra do incansável A.I.A.C.O., o silêncio sobre o passado do Barril de Alva seria “ensurdecedor”!
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