SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO BARRIL DE ALVA: FONTES: ”AIACO” - A COMARCA DE ARGANIL- GENI.COM - CLARINDA GOUVEIA - P. ANTÓNIO DINIS - - “ECOS DO ALVA” – U.P.B.A.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Cronologia da independência do Barril de Alva (I)



1.- Em 24 de abril de 1924 foi tornado público o
                                       projeto da Lei apresentado ao Parlamento pelo Dr. Alberto Moura Pinto, deputado pelo círculo de Arganil, para que fosse criada a  freguesia do Barril de Alva.

 2.- No dia 2 de julho de 1924 o projeto da Lei foi aprovado na Câmara dos Deputados.

 3.- No dia 15 de julho de 1924 o Senado do Congresso da República aprovou a proposta de Lei nº  648, criando a nova freguesia do Barril de Alva.

 4.- A 25 de julho de 1924, o Diário da República publicou a Lei nº 1639, assinada pelo então presidente da República, Manuel Teixeira Gomes, criando a freguesia do Barril de Alva.

***

A primeira Junta de Freguesia foi eleita em 21 de setembro de 1924 e era composta pelos seguintes cidadãos:

EFETIVOS
 Albano Nunes dos Santos
José Coelho Nobre
António Brito Simões
José Maria de Paiva
José Martins de Carvalho

SUPLENTES
Albano Brito Simões
Manuel Marques Correia
José Luís Marque
Francisco Correia Rijo
António Valentim dos Santos

 - Interinamente,  Joaquim Jacinto Coelho Nobre foi nomeado regedor

- No ano  seguinte, o primeiro aniversário da nova freguesia foi festejado no dia 15  de  julho por ter sido nesse dia, em 1924, que o Senado do Congresso da República aprovou a Lei da criação da nova  freguesia.

- A partir de 1926 a data histórica a ser comemorada, de forma definitiva, passou  para  o dia 25 de julho.

Criação da freguesia do Barril de Alva (II)


O projeto de Lei que determinou a criação da freguesia do Barril de Alva foi redigido e apresentado na Câmara dos Deputados pelo dr. Alberto Moura Pinto,
ministro da 1ª República

"Senhores deputados: 
- A freguesia de Vila Cova Sub-Avô, no concelho de Arganil, é uma das mais antigas do país e compôe-se de várias povoações, entre as quais figura a povoação do Barril. Tanto a povoação que faz a sede, como esta última se têm desenvolvido consideravelmente há uns anos a esta parte, mercê do esforço dos seus habitantes, que na sua maior parte procuram em Lisboa, onde constituem numerosa, ativa e honesta colónia, e no Brasil e América do Norte, angariar uma abastança com que regressem aos seus lares.
O Barril, apesar de ser o povo de constituição mais recente, atingiu tal desenvolvimento que hoje, por si só, se sente capaz de formar organismo administrativo à parte, tendo-se dotado gradualmente de todos os elementos que o impõe à consideração do Estado e da opinião pública.
Assim, e sem intervenção do Estado, construiu, a expensas da benevolência particular dos seus mais ilustres conterrâneos, casas de escola para os dois sexos, cemitério público, ampliação de uma capela transformada em igreja, conservação e melhoria dos seus caminhos, valioso comércio local,etc, elementos estes que, ao passo que foram sendo criados, lhes fizeram ganhar consciência da sua independência e um vivo desejo de a obter.
Separadas as duas povoações pelo rio Alva, às margens do qual estão fundadas, este desejo, afervorou-se a tal ponto que as duas povoações, que entre si têm laços estreitos de parentesco, começaram de não se entender e, por equívocos repetidos, se encontram hoje em aberta hostilidade, a que tudo serve de pretexto.
O natural amor pela independência, que não é contrariado sequer pela maioria dos habitantes da sede, degenerou em lamentável rixa, que inevitavelmente produzirá graves conflitos, se o Estado não acudir, separando o que a natureza das cousas não permite ter já reunido.
A índole das duas povoações é pacífica e generosa e só estes sentimentos, postos em jogo pelos dirigentes políticos de todas as matizes têm conseguido evitar desastrosas consequências, a que o orgulho e o brio de cada uma, levado a um grau de desatinada paixão, podem levar povoações desavindas.
O signatário garante ao Congresso da República que neste desejo não há nenhum intuito de pessoal ou mesquinhas política, dando-se até a circunstância de viver e ter os seus haveres na velha freguesia de Vila Cova, à qual continuará a pertencer.
O signatário está e quer estar alheio aos incidentes que as paixões mútuas fazem surgir, desejando apenas o bom nome, a prosperidade e o sossego a que os seus conterrâneos têm direito, pela vida honrada que sempre levaram.
A apresentação do presente projecto é, pois, somente inspirada no propósito de justiça, na verificação de um facto de ordem social que tem o seu determinismo e a que é absurdo opor obstáculos: a povoação do Barril atingiu a sua maioridade e a de Vila Cova não carece de ela para a sua vida, e só a independência administrativa garantirá a boa ordem, a calma nos espíritos e o regresso aos bons tempos de harmonia.
Pelos documentos juntos prova-se a razão do pedido. E porque as duas povoações, à beira do Alva, desejam tomar como apelido o nome do seu rio, o que as distinguirá de outras terras, com a sua denominação, submeto à apreciação de vv.exªs, o projeto que se segue, em que se faz a criação da freguesia do Barril e se satisfaz esta última aparição".

PROJETO DE LEI

Artº 1º - É desanexada da freguesia de Vila Cova Sub-Avô, concelho de Arganil, a povoação do Barril, a qual passará a constituir uma freguesia, denominada Barril de Alva, ficando as duas freguesias delimitadas entre si pelo rio Alva, afluente do Mondego.

Artº 2º - A freguesia de Vila Cova Sub-Avô passará a denominar-se Vila Cova de Alva.

Artº 3º - Fica revogada a legislação em contrário.

Alberto Moura Pinto - promotor da independência do Barril de Alva (III)



Alberto Moura Pinto nasce em Coimbra, no dia 4 de Abril de 1883, registado como o nome de Alberto Marques. Cursa Direito na Universidade de Coimbra. No período monárquico desempenha o cargo de Administrador Régio do Concelho de Arganil e de Procurador Régio, em Miranda do Douro e São João da Madeira. Mação, está inscrito na Loja Tenacidade, de Coimbra, com o nome de Passos Manuel. Em 1910, participa nas movimentações para a implantação da República, cooperando na Junta Revolucionária de Coimbra. Como deputado, integra as Constituintes de 1911, representando o Círculo de Arganil e cumpre mandatos sucessivos na Assembleia, pelo Partido Unionista, envolvendo-se numa célebre polémica com Veiga Simões, tendo, como pano de fundo, a ida do caminho-de-ferro para Arganil. Com a ascensão de Sidónio Pais, Moura Pinto exerce o cargo de Ministro da Justiça, entre 11 de Fevereiro de 1917 e 7 de Março de 1918. É responsável pela alteração da Lei da Separação entre a Igreja e o Estado.
Em desacordo com a ditadura militar, participa na rebelião de Junho de 1930, tendo sido preso e deportado para os Açores. No ano seguinte, aproveitando a possibilidade de fuga durante a Revolta de 1931, parte para Espanha onde, com Jaime de Morais e Jaime Cortesão, formam o “Grupo de Madrid”, alcunhados de “Budas”.
Em 1934, uma mudança política em Espanha coloca a direita no poder; os socialistas projetam um golpe, com o auxílio dos exilados portugueses e das armas que, até então, lhes eram fornecidas com o beneplácito do regime deposto. Descoberta a trama, Moura Pinto é enviado para a Prisão Modelo, em Madrid, entre 1934 e 1935. Em 1936, com a vitória da Frente Popular, seguida do golpe de Franco e da Guerra Civil, os Budas declaram a sua fidelidade à República de Espanha, participando na luta contra Franco. O grupo acompanha a mudança do governo republicano para Barcelona, de onde Moura Pinto é transferido para a França; aí atua em prol dos republicanos, buscando auxílio para o Plano Lusitânia, que pretendia organizar uma invasão de Portugal pelos resistentes portugueses para acabar com o regime de Salazar e sua colaboração com o franquismo. O avanço das tropas franquistas põe fim ao intento dos exilados lusos.
Em 1939, Moura Pinto é obrigado a buscar refúgio no Brasil, na iminência de ser deportado para Portugal, depois de ter sido preso em território francês por estar irregular no país. Com a chegada ao Brasil de Cortesão e Morais, prossegue a sua atividade como oposicionista, integrando o Comité Português Anti-Fascista, criado no Rio de Janeiro em 1945. Neste período, retoma os contactos com os republicanos espanhóis exilados, nomeadamente com o sector galego, comandado por Castelão, a quem os “Budas” entregam uma credencial para que ele possa representar os exilados portugueses na Assembleia das Nações Unidas. Estabelece contactos como o Movimento de Unidade Democrática, fazendo publicar, em jornais brasileiros, diversos textos contra o regime de Salazar. Durante a campanha de Norton de Matos é o encarregado da angariação de fundos junto dos anti-salazaristas a residir naquele país. Na década de cinquenta, Moura Pinto participa nos debates sobre o problema colonial e o posicionamento de Portugal na questão da Goa. Regressa a Portugal em 1957. Com Jaime Cortesão, antigo companheiro de exílio, apoia com relutância a candidatura de Humberto Delgado.
Falece em 9 de Março de 1960.



segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Urtigal - "lagar de varas"


... naquele tempo era assim 


               Esquema de uma prensa de vara





"As azeitonas eram prensadas entre dois moinhos de pedra (por norma, de granito). Essas camadas grossas eram espalhadas em seiras redondas, postas umas sobre as outras e pressionadas por uma prensa hidráulica. O líquido advindo dessa prensagem é uma mistura de azeite e sabores amargos dissolvidos em água. Esse líquido seguia por dois canais abertos numa peça de granito e era encaminhado para grandes depósitos, também de granito".
Os "lagares de varas" - como era o do Urtigal - baseiam-se num sistema de prensa dos lagares romanos e hoje são peças "vivas" de alguns museus.
As guias das seiras estavam encaixadas nas duas aberturas, visíveis na imagem da peça encontrada nos escombros  do edifício.
Durante as obras de recuperação das ruinas do “complexo” industrial da Quinta do Urtigal, foi ainda encontrada a viga do pórtico da acesso principal, uma chave de tamanho médio, partes dos depósitos onde era recolhido o azeite e restos do sistema hidráulico (?). 
- Junto ao caneiro,  quando o caudal do rio é fraco, ainda podemos "descobrir a olho nu"   uma ou duas memórias   do  "nosso" lagar...



domingo, 12 de novembro de 2023

Barril de Alva - às voltas com a História


   
Quinta do Urtigal - ruinas  do lagar e moenda

 O Barril (de Alva) fez parte do concelho de Vila Cova (de Sub Avô), depois integrou o concelho de Coja e agora, como se sabe, pertence ao concelho de Arganil.
Por mera curiosidade, se a tiver, fique a conhecer algumas datas que fazem parte da História das vilas e aldeias da nossa região.

"Paróquia de Vila Cova de Alva
Vila Cova foi sede de concelho, só extinto em 1836. Teve juiz ordinário, vereadores, procurador do concelho, escrivão da Câmara, escrivão do Judicial, de notas e de órfãos, e companhia de ordenanças.
Em 1840, pertencia ao concelho de Coja, extinto por decreto de 31 de dezembro, passando então para o de Arganil.
Também designada por Vila Cova de Sub Avô ou apenas por Vila Cova, passou a ter a atual designação pela Lei nº 1625, de 25 de julho de 1924 (ano da criação da freguesia do Barril de Alva).

Cartório Notarial de Coja
Os notários deste cartório desenvolveram a sua atividade em Coja, que possuía julgado de paz. Freguesia do concelho de Arganil, foi outrora sede concelhia até à sua extinção pelo Decreto de 31 de dezembro de 1853. Dele faziam parte as freguesias de Vila Cova do Alva, Benfeita, Cerdeira e Barril de Alva.
- A última reunião da Câmara Municipal de Coja realizou-se em 18 de janeiro de 1854. 
Fazia parte da comarca de Seia em 1839, mas depois ficou a pertencer à de Arganil. O Decreto-Lei nº 1364, de 18 de setembro de 1922, fixou em quatro o número de lugares de notário na comarca de Arganil: um na sede, um em Coja e os dois restantes em Góis e Pampilhosa da Serra, situação reiterada pelo Decreto nº 15 304, de 2 de abril de 1928. Por sua vez, o Decreto-Lei nº 19 133, de 18 de dezembro de 1930, suprime o lugar de notário existente em Coja, mantendo-se em atividade o notário até à respetiva vacatura".
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Fonte: Geni.com

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Quem “nasceu” primeiro? O Urtigal ou o Barril?

 Os elementos cronológicos referidos pelo antigo padre Januário, que durante 50 anos (de 1943 a 1993) exerceu funções pastorais, em Vila Cova de Alva, Anceriz e Barril de Alva, mencionados por António Inácio Alves Correia de Oliveira -AIACO - no jornal “ A Comarca de Arganil”, fundado em 1901, apontam a “Casa do Barril”, ou Quinta de Santo António, como principal fator no desenvolvimento do lugar do Barril.
Para este trabalho de recolha de simples notas e apontamentos históricos, considerei irrelevante aprofundar as origens da Quinta de Santo António, sendo certo que alguma influência teve a proximidade de Vila Cova de Sub Avô, da qual o Barril fazia parte, para impor a sua influência no desenvolvimento da agricultura na zona da sua envolvência.
A "Casa do Barril" é citada pela primeira vez (?) num pequeno texto algures no ano de 1720, onde se afirma que “...os seus proprietários eram donos de terras até ao rio…”, incluindo “a Quinta do Urtigal”, que fazia parte “…da freguesia de Vila Cova de Sub-Avô…”- (volume XI da obra “Portugal Antigo e Moderno”, editado em 1886).
É importante acentuar a referência feita à Quinta do Urtigal. A.I.A.C.O., nas suas deambulações históricas, não coloca de parte a eventualidade da Quinta ser anterior ao povoamento do lugar do Barril.
O topónimo Urtigal é, talvez, o reflexo da existência no local de “…plantas herbáceas do género Urtica, da família das Urticáceas”.
A zona onde existiu o lagar e a moenda foi adquirida aos seus anteriores proprietários (também donos da Quinta de Santo António) pelo executivo da extinta Junta de Freguesia do Barril de Alva (2009/2013), que deu visibilidade às ruinas, alindou o espaço e ergueu obra singela de apoio aos veraneantes.
- Ficou mais rico o património público do Barril de Alva.
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Os romanos foram exímios exploradores do ouro no rio Alva e nos montes próximos, a céu aberto ou através de minas. No Barril de Alva, na margem direita do rio, na Área de Serviço e Pernoita para Autocaravanas, ainda existem milhares de pedras redondas (calhaus) que formam uma CONHEIRA – “(…)local onde foram amontoados seixos rolados resultantes do trabalho de exploração mineira”.
A tese de que a Quinta do Urtigal “vem do tempo dos romanos” é uma “estória” (?) que se encaixa neste texto, recolhido aqui: https://revistaplaneta.com.br/ .
- “No Império Romano, a produção movida a água era usada para fazer farinha e cortar pedra e madeira. Os moinhos d’água foram uma das primeiras fontes de energia que não dependiam da força muscular de humanos ou animais”.
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… E assim nasceu o lugar do Barril – ou não !
A lenda do “Moleiro do Barril” pretende encontrar uma razão para o nome do lugar:
- “(…) existia um lugar na margem direita do rio Alva, entre Vila Cova de Sub Avô e Coja, sem denominação conhecida.
Certo dia, o Alva teve grande cheia. Um moleiro do pequeno povoado, ao reparar que havia barris de vários tamanhos na corrente, pegou numa vara e, com ela, conseguiu arrastá-los para a margem.
Nesse ano, a produção de vinho foi de tal modo elevada que se esgotou o vasilhame. Os agricultores das redondezas recorreram ao moleiro, com quem fizeram negócio. Por essa razão, passou a ser conhecido pelo “Moleiro do Barril.
Além desta lenda, existe uma outra, menos “romântica”, mas…
- Para atravessar o rio, quando aumentava o caudal, os residentes no povoado utilizavam uma jangada feita de barris vazios, ligados uns aos outros.
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Sobre o topónimo Barril, A.I.A.C.O. recolheu esta pequena nota: (…): "também medieval, derivado de barro e, portanto, de sentido geológico (…). Temos que admitir, também, que o povoamento do Barril de Alva é anterior ao século XII”.
Pinho Leal, historiador, autor da obra “Portugal Antigo e Moderno, publicada entre 1873 e 1890, esclarece que o lugar do Barril é um “…pequeno povoado da margem direita do rio Alva, ALBA ou ALBULA, como foi conhecido no passado remoto".
Urtigal, anos sessenta: lagar e moenda; o local depois de recuperado em 2011/2012