Em novembro de 1946, a Sociedade Filarmónica Barrilense, durante o seu 52º aniversário, homenageou o seu carismático maestro, entre 1930 a 1944, João Martins Vinagre, a quem a instituição ficou a dever momentos de exaltação artística, como adiante se relata através de excertos de uma “recordativa mensagem”, brochura ricamente ilustrada, assinada pela totalidade dos executantes da Filarmónica e elementos ativos do Grupo Cénico, que lhe foi entregue no momento da “inauguração da sua fotografia na casa do ensaio”.
Recorda-se:
“Quando a nossa coletividade se encontrava deveras desorganizada e em decadência, mesmo à beira do abismo, assumiu a responsabilidade de recompor o conjunto musical…”.
“Compreendido nas suas intenções de fazer mais e melhor que no passado, depressa se insinuou, criando fama e respeito de tal forma que, em pouco tempo, apresentava em público além da música bem tocada, outras modalidades de atração e recreativas com as quais conseguiu magníficos resultados e bastos aplausos…”
“(…) Para diferenciar os programas artísticos que idealizava sem longos compassos de espera, na esperança de proporcionar ao auditório mais distrações interessantes e culturais, organizou com o encargo de ensaiar, o “Grupo Cénico” que deu algumas récitas e saraus no antigo “Cine Teatro Barrilense”, de saudosa memória, e a pedido noutras localidades circunvizinhas. Desses agradáveis espetáculos recordamos com saudade a representação de uma Revista / local, com letra e música da sua autoria, assim como outros números que causaram sucesso...”.
“Revista à portuguesa” ou “Opereta”
A “recordativa mensagem” é, toda ela, da redação da ideia com que se homenageia o maestro Vinagre à caligrafia, em itálico, uma vénia às suas qualidades artísticas, disponibilidade de pedagogo e espírito de sacrifício.
Agora, o destino, através de um amigo do peito, Armando Bernardo, deixou nas minhas mãos as partituras da obra, que o autor do reconhecimento público apelida de “Revista /local” – (peça de teatro, de crítica a factos, costumes e tipos conhecidos). João Vinagre, por seu turno, chamou-lhe “Opereta” - (espécie de ópera ligeira, de texto simples e feição popular).
Esta “Opereta”, depois da introdução musical, está dividida em vários quadros, cada um com o seu título: “A nossa terra”, “Fado”, “Canção das rosas, “Flores de abril”, “Serenata” e “Saudação ao Barril” - tema que encerrava o espetáculo, e ainda na memória do tempo quando os barrilenses se (re) encontram com a sua Filarmónica.
Pela “voz” do saxofone, o Armando desenrola os andamentos e encanta-me com a sonoridade das notas: umas “alegres e corridas”, outras “suaves e intimistas”…
Diz ele, o meu amigo do peito:
- Com saúde, tempo e a indispensável ajuda de outros músicos, sou capaz de “tocar aquilo tudo”…
Faltam as letras e as vozes – mas isso também se arranja: ”os Barrilenses são assim”! - ou não fossemos herdeiros de “(…) teimosos e cabeçudos Beirões, como disse o poeta Miguel Torga, a propósito da construção do Teatro Alves Coelho, em Arganil, “erguido por teimosos e cabeçudos Beirões, da mesma maneira que antigamente se construíam as Catedrais, trazendo cada um a sua pedra”.
… Então, que comecem os ensaios da “Opereta”… ou da “Revista /local”!
CR
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